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Por que o marxismo?

Atualizado: 14 de out. de 2018

Considerações acerca do marxismo nas bases conceituais do Mestrado Profissional em Educação Profissional (PROFEPT).


Intervenção de Banksy

Não há como ficar indiferente diante do pensamento de Marx ou tentar ignorá-lo. Por exigir reflexão crítica e incidência concreta sobre a realidade, ele resultou em vários defensores apaixonados e inúmeros impetuosos adversários (mas raros críticos estudiosos). Não há notícias de que alguém tenha sido preso por ser durkheimiano ou weberiano, mas para aqueles que optaram pela perspectiva de Marx não faltou sorte de coerção. Certamente, um curso que afirma suas bases conceituais no marxismo há que defender suas escolhas. A criminalização do marxismo, ao meu ver, é um fenômeno fundado em algumas razões: em primeiro lugar, no desconhecimento das concepções teórico-metodológicas de Marx por parte da maioria (gente que não comeu e não gostou); depois, na vulgarização e simplificação acrítica acerca do pensamento de Marx (realizada pelos próprios marxistas no ímpeto da divulgação); também, na desconsideração da complexidade e da fortuna editorial da obra de Marx (que não está inteiramente publicada até hoje); outrossim, no olhar restrito aos aspectos negativos das intervenções concretas da perspectiva marxista no mundo; e, por último, na má fé daqueles que estudaram a obra de Marx, parcial ou rigorosamente, e a condenam por estarem compromissados com a conservação e naturalização do mundo social, bem como de suas relações de poder como estão postas.


Optar pela perspectiva marxista não significa aderir de forma submissa, fundamentalista e cega à uma cosmologia religiosa. Pelo contrário, significa adotar uma lente de observação da realidade que possui seus limites e virtudes. É justamente reconhecer as perguntas que essa perspectiva ignora ou responde de forma insuficiente e se valer daquilo que ela ganha alto grau de elucidação.


O marxismo continua sendo, sem dúvida alguma, referência relevante tanto para a análise crítica da sociedade, como também para a transformação da ordem social vigente. Como o capitalismo não foi superado e gera, além de grande riqueza material para alguns, problemas indissimuláveis para todos, as críticas a ele feitas pela perspectiva marxista são atuais, precisas e contundentes. Considerando que, para Marx, trabalho é categoria central de seu sistema de explicação sobre a vida humana e que, para mim e para você, educação é atividade fundamental para a formação humana, não há como evitar o debate com essa perspectiva em um curso sobre educação profissional e tecnológica. Ignorar as contribuições do marxismo para a área, apenas por aversões ideológicas, é, pleonasticamente, optar pela ignorância.


Educação não é fenômeno neutro. Quem educa o faz para algo. Há uma educação que visa reproduzir as estruturas de dominação de poucos em relação a muitos. Há uma mesma educação que atomiza os indivíduos, fragmenta suas potencialidades e os aliena de si mesmos. Essa educação é aquela que divide os seres humanos em corpo e mente. Portanto, se há uma educação que pretende conservar as estruturas de uma sociedade que produz injustiças, há de surgir uma educação que se contraponha a esse movimento ideológico, dedique-se a denunciá-lo e promova mudanças sociais. No lugar do coaching empreendedorista que desvaloriza os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, instrumentaliza a empatia para gerar lucro e restringe a vida humana à uma competição entre indivíduos que buscam o próximo padrão de consumo, faz-se urgente uma formação profissional que valorize o ser humano em sua natureza objetiva e inteira, promova o acesso aos conhecimentos acumulados, buscando o desenvolvimento da humanidade em todas as suas potencialidades.

 

Contudo, a pergunta que fica é: como implementar uma pedagogia transformadora em um sistema educacional conservador e capitalista? 


Se, por um lado, não temos uma resposta pronta e definitiva para questões como essa, por outro olhar, temos clareza dos elementos basilares de uma pedagogia libertária e emancipadora: a educação pública, gratuita e obrigatória para todas as crianças, a combinação de educação intelectual e produção material, a formação para o desenvolvimento integral, a formação politécnica e omnilateral. Apesar de não haver uma receita de como fazer acontecer, é necessário partir desses princípios pedagógicos comprometidos com a humanidade e buscar colocá-los em prática.


Marx, citado por Lombardi, afirma que: "Se por um lado é necessário modificar as condições sociais para criar um novo sistema de ensino, por outro, falta um sistema de ensino novo para poder modificar as condições sociais. Consequentemente, é necessário partir da situação atual."


Reflexão preliminar com base no texto “Educação, Ensino e Formação profissional em Marx e Engels”, de José Claudinei Lombardi.

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4 Comments


Débora Leite Silvano
Débora Leite Silvano
Dec 03, 2018

Nos tempos atuais, em que até as mudanças climáticas são consideradas ideias marxistas, vale muito a reflexão sobre a criminalização do marxismo! Gostei muito do seu texto, que deixa a vontade de querer continuar refletindo e aprofundando a respeito.

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cyntia.souza
Nov 09, 2018

Olá André! Muito boa reflexão! Perceber a educação dentro da dialética e da contradição é o primeiro passo. Acredito que pedagogia Marxista ainda pede ser concebida como parte integrante de um projeto revolucionário de sociedade, se, apenas se, tivermos forças de continuar refletindo sobre a educação, sobre a contradição e quais os erros e acertos que nos trouxeram até aqui.

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Eliene do Carmo Santos Nunes
Eliene do Carmo Santos Nunes
Nov 02, 2018

André, sua análise demonstra o quão importante é o conhecimento sobre o Marxismo, visto que ele nos permite enxergar as contradições do capitalismo e as implicações destas na educação. A falta de conhecimento e a simplificação do marxismo, destacadas por Angélica, confirmam o quanto ainda precisamos avançar na luta por uma educação integral que proporcione aos indivíduos a construção de uma visão de mundo para além da que já está previamente estabelecida.

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Angélica Marques
Angélica Marques
Oct 22, 2018

Boa noite, André. Falou tudo. Como pode um teórico ser mal compreendido, se nem foi lido? Gostei da sua visão sobre como o ato de simplificar o marxismo, acabou causando tantas interpretações nocivas. Sabemos que isso é fruto da ausência da educação integral, essa mesma que você mencionou e que faz tanta falta para formação do senso crítico... Obrigada por postar essa excelente análise.


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