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Foto do escritorAndré Hope

Relato de Experiência




Ocorreu-me neste curso de mestrado que, enquanto aluno afastado por licença paternidade, busquei adiantar a leitura do livro “A Prática Educativa: Como Ensinar”, de Antoni Zabala, para posteriormente realizar tarefas propostas por uma matéria do curso. Iniciei a leitura cuidadosa e detalhada, buscando gravar as ideias e conceitos. Fiquei contente com a leitura feita, pois me via diante de um material de apoio substancial para a prática da minha profissão. Lembro de ter comentado com uma professora da matéria acerca da leitura do livro, expondo-lhe o quanto havia gostado do conteúdo da obra. Mas, no momento dessa exposição, percebi-me com alguma dificuldade para lembrar com clareza das coisas que dizia ter aprendido. Quando voltei da licença, dediquei-me a realizar as tarefas em atraso. Uma das tarefas era um desafio: simulando ser um consultor contratado, elaborar uma proposta de formação continuada para professores recém-chegados a uma instituição de educação profissional, a partir da leitura do livro de Zabala. Imaginei um percurso formativo geral para dar conta de discutir a função social da instituição e o sentido do trabalho de seus educadores, além de desenvolver o conhecimento acerca das especificidades do trabalho profissional de professor. Contudo, no fluxo da prática, encontrei-me paralisado e impedido de formular diversos momentos da proposta devido a diversas lacunas no meu conhecimento que constantemente iam surgindo. Voltei à leitura do livro instigado pelas questões teóricas e práticas que aquela situação simulada me fazia vivenciar. Foi outra leitura, completamente diversa. Eu já não estava na posição de mero receptor de conhecimentos, mas precisava construir um projeto, interferir na realidade e isso exigia que eu desenvolvesse competências. Nessa nova leitura eu precisava compreender efetivamente, promover a sistematização dessa compreensão e desenvolver uma atuação que gerasse a transformação pretendida. Ao criar estratégias para que os professores aprendessem, fui aprendendo a ser professor. Fiquei admirado por me perceber aprendendo dessa forma tão significativa, pois meu ofício é justamente ensinar e promover transformação. Fui transformado. Entendi que minha prática não seria mais a mesma. Vejo que tal caminho pedagógico tem grande potência transformadora e criativa, abrindo espaço para uma atuação autêntica de si no mundo. No entanto, muito do que foi aprendido fica contingenciado pelas normas de trabalho impostas ao professor. Planejamento, por exemplo, que é o fundamento do fazer professoral, tem um tempo limitado por diversos interesses alheios ao objetivo da aprendizagem dos alunos. Foram necessários alguns dias para concluir um rascunho de proposta pedagógica para o desafio narrado. Em várias instituições de ensino, públicas e particulares, o tempo de planejamento do professor é exíguo (ou nem existe), fazendo com que seja comum o trabalho para além de suas horas remuneradas.

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